Dia dos Pais

Pai...
Este é o primeiro Dia dos Pais em que não estás aqui...
Meu coração está apertadinho de saudade.
A tua ausência é algo que me entristece.
Sei que a morte faz parte da vida,
mas viver essa situação dói demais!
Lembro tua chegada aqui em casa,
trazendo uma garrafa de guaraná Antartica
que era a tua marca preferida.
Ou um pão fresquinho da padaria
para tomarmos um cafezinho juntos.
Ou um doce de coco que eu comprava,
pois sabia que isso te faria feliz.
Era tão fácil te fazer feliz!!!
Um cafezinho batido, um doce, um passeio a Gramado...
Eras apaixonado pelo Bidu.
Imagine agora com os filhotes dele...
Virias mais vezes só para vê-los crescer.
Que bom que te levei para passear ou almoçar fora...
E que fiz almoços especiais para te agradar:
com bacalhau, palmito, peixe merluza...
Comias com tanto prazer
que qualquer cozinheira ficaria lisonjeada.
Sabias valorizar as pequenas coisas...
E gostavas de retribuir.
Lamento as vezes que briguei contigo
e perdi a chance de só conversarmos e nos divertirmos.
Eu estava sempre preocupada se tinhas passado o protetor solar,
se tinhas tomado os remédios direitinho,
se não estavas comendo as coisas proibidas pela tua nefrologista,
pois nasceste com um só rim...
E esse rim estava funcionando menos de 15% há tempos...
Vivia te cobrando e sendo uma filha chata...
Eu cuidava demais e acarinhava de menos.
Me culpo por isso hoje.
Acho que isso acontece quando se perde alguém que se ama.
Vem a culpa e o arrependimento.
Fica-se achando que se errou mais do que se acertou.
Choro muito por teres nos deixado.
Não entendo quando querem me confortar dizendo:
Ah... mas ele já estava com 82 anos...
E dai? Eu o queria até os 90, 100 ou mais até! Com saúde, é claro!
A morte é para sempre.
Que me perdoem os espíritas!
Mas acho que a morte é o fim,
mesmo acreditando em Deus e em Jesus Cristo!
Talvez eu fosse mais feliz e mais conformada
se acreditasse que não acabou
e que um dia nos reencontraremos.
Mas como não sou dona da verdade e apenas tenho a minha opinião,
torço para que eu esteja errada
e que eu possa te reencontrar um dia,
te dar um abraço e te dizer de novo que te amo
e que sinto muito a tua falta.
Levei anos para te dizer: eu te amo, pai!
Não era um hábito familiar.
Mas eu disse...
Isso alivia um pouco o meu coração!
Tu sabias que eu te amava.
Escolhi fazer uma festa pelos teus 80 anos
em vez de comemorar os meus 50.
Tua alegria na festa
foi o meu maior presente.
A tua felicidade naquele dia era a prova
de que eu tinha feito a coisa certa.
Ficam as lembranças, as saudades, as culpas...
E uma grande tristeza no meu coração!
Agradeço pela vida que me deste;
pelas vezes que tive febre
e, de madrugada, saías em busca de médico;
pelas cestas de Páscoa cheias de chocolate Neugebauer maciço...
Por me incentivar a andar com os meus pés em cima dos teus...
Pelas gemadas que batias até crescer bem e ficarem bem clarinhas...
Pelo teu coração bom, pela tua humildade em reconhecer quando erravas...
Pela minha faculdade de Letras que pagaste todinha...
Por conviveres comigo por 52 anos...
Há tantos que nem conhecem seus pais
ou os perdem cedo demais...
Pelos teus telefonemas diários,
por sempre perguntares se eu estava bem...
Pela tua preocupação quando eu não estava...
Mesmo que essa dor que sinto diminua com o tempo,
minha vida nunca mais será a mesma,
pois não estás mais aqui.
Lembro quando conseguimos o DVD do teu filme preferido:
Deu a louca no mundo!
Parecias uma criança em frente à televisão vendo pela enésima vez.
Não sei se terei coragem de assistir a esse filme de novo.
E neste domingo, Dia dos Pais, pensarei muito em ti.
Mas não quero chorar...
Quero apenas lembrar das coisas boas que vivemos juntos!
E se realmente podes me ver de onde estás,
que vejas que o meu amor por ti não mudou nada.
O que está no coração da gente,
nem a morte pode eliminar.
Saudades, pai!

Sônia Silvino